Brincadeiras do destino.


Comecei a me sentir mais feliz, a partir do dia que finalmente acredite no grande clichê “toda pessoa entra na nossa vida por um motivo”. É tudo armação do destino. E só comecei a ser mais feliz, porque comecei a perceber que devo dar valor a cada nova pessoa que cruza o meu caminho, e me divirto tentando descobrir qual será o aprendizado que ela me trará e a sua importância na minha vida. Pode ser muito ou pode ser pouco, mas será.
                Alguém que você conhece aleatoriamente pode ser mais um, pode ser o amor da sua vida, mas o que importa que seus caminhos não se cruzaram sem motivo. Seja esse motivo um número a mais em uma lista boba ou para sumir com qualquer solidão da vida. Tanto um modo como outro são importantes, são fatos da vida.

O poder de um segundo



            Hoje, vagando pela internet, lembrei de uma menina que fez parte da minha infância, menina alegre e bonita, considerada por unanimidade entre os meninos da 4ª série como a mais linda da escola. Muito tempo fiquei sem ter notícias dessa menina, quando por meio de cliques na época do orkut e amigos em comum, descubro que essa menina sofreu um acidente, que está entre a vida e a morte. Fiquei chocada com a notícia, e mais chocada ainda com minha situação, esse meu jeito de tomar a dor do mundo me pedia para ir vê-la, mas a timidez por ser aquela que estudou com a menina há anos atrás e que podia não ser lembrada não permitiu. Passei muito tempo preocupada com ela, perguntando ao nosso amigo em comum como ela estava. E ela estava lá, em uma cama de hospital que ocultava toda aquela sua beleza e alegria. Quem diria.
            Passaram-se quase dois anos, e hoje nessa tarde de domingo, me veio a enorme preocupação   de saber como ela estava. Procurei e encontrei o perfil dela na rede social, e me veio um enorme conforto em saber que ela já havia saído daquele hospital horrível, já estava retornando ao colégio, que está viva. Em compensação, me veio um choque enorme ao ver aquela menina tão diferente nas fotos, com certas sequelas aparentes, aparentando tentar sem quem era antes, mas sem conseguir. Meu coração fez um nó. Fechei a página dela, não fiz contato algum, uma pessoa em recuperação não precisa de uma ex-colega chata querendo puxar assunto, não é mesmo? Mas soube de tudo o que eu queria. Sou que ela estava viva.
            Ela provavelmente nem se lembrará de mim, não saberá que me lembrei dela, e muito menos lerá esse texto, mas essa história dela marcou demais pra mim, e me fez questionar muitos fatos sobre a vida. Imagine só, alguns segundos que causaram um acidente, transformou a vida dela, a vida de todos que a cercam. Sim, um segundo é muito tempo, esse piscar de olhos pode transformar vidas. Por isso eu digo que não adianta pensar tanto no futuro, viver pensando em como viver mais, sendo que um segundo pode transformar tudo isso. É óbvio, devemos ter certos planos, afinal temos que guiar a vida como se a morte não existisse, e se morrer, deixar aqui a missão de dever cumprido. E particularmente para mim, essa missão é cada sorriso que eu conquistei, cada lembrança que ficará na memória de quem passou por mim, cada ato digno de orgulho, cada dor de barriga de tanto rir que tive, cada história épica que parece até mentira para quem não viveu. Enfim, cada segundo de alegria vale esse segundo que a vida pode acabar.
            E assim, encerro esse texto talvez sem nexo, talvez ridículo para quem leia, mas de grande sentimento de minha parte. Esse texto que não foi escrito com preocupações gramaticais, que foi escrito em um só suspiro, assim, em alguns segundos.

A volta ao ninho

          Pois então meus queridos, eu voltarei. Não sei ao certo o dia, nem o mês, mas eu voltarei. Sim, é claro que estou feliz, implorei para ter novamente tudo aquilo que me foi tirado, não é mesmo? A questão é que justo agora que eu voltarei, estava me acostumando com as mudanças, e já agradecia a vida por todo meu amadurecimento e os giros do mundo. Pois é, justo agora! Por isso estou com essa sensação de que Deus escuta meus pedidos com certo atraso, pois o que eu lhe pedi à um ano atrás, foi me dado só agora. E agora tenho medo que todas minhas preces sejam ouvidas com um atraso de tempo que faça jus a minha troca de pedidos. Talvez agora seja claro entender porque estou com tanto medo de falar com Deus, e agora só lhe agradeço o que me tem dado e peço que guie meus passos. Nada mais. Estou com receio de pedir e ser ouvida... tarde demais.
          Não estou reclamando, não me entenda mal, só estou questionando porque a vida é assim, tão errada no tempo, tão ao contrário do que eu espero. Quem sabe um dia eu aprendo e vou vivendo sem esperar nada, sem planos, sem pressa, sem expectativa de futuro. Um dia ainda vou viver pelo simples fato de estar viva e livre. Um dia eu serei livre. 
          Neste momento só peço que me esperem de braços abertos, me esperem com carinho, me esperem com a força que eu preciso. Só peço que me esperem.
"Quando acordei esta manhã no quarto úmido e escuro, ouvindo o tamborilar da chuva por todos os lados, tive a impressão de que havia sarado. Estava curada das palpitações no coração que me atormentaram nos últimos dois dias, praticamente impedindo que eu lesse, pensasse ou mesmo levasse a mão ao peito. Um pássaro alucinado se debatia lá dentro, preso na gaiola de osso, disposto a rompê-lo e sair, sacudindo meu corpo inteiro a cada tentativa. Senti vontade de golpear meu coração, arrancá-lo para deter aquela pulsação ridícula que parecia querer saltar do meu coração e sair pelo mundo, seguindo seu próprio rumo. Deitada, com a mão entre os seios, alegrei-me por acordar e sentir a batida tranquila, ritmada e quase imperceptível de meu coração em repouso. Levantei-me, esperando a cada momento ser novamente atormentada, mas isso não ocorreu. Desde que acordei estou em paz."

Sylvia Plath



Me escute doutor

Doutor, aumenta essa dosagem, por favor! Já passei pela fase da alegria extrema, da alegria simples, da alegria disfarçada, e agora já não estou conseguindo fingir que estou bem. Por isso, peço que mais uma vez aumente minhas doses. Na verdade, não quero mais medicamentos doutor, só quero que o senhor me cure, é para isso que eu venho aqui, não é mesmo?
Quero voltar a rir do nada, assim como estive a um tempo atrás. Quero voltar a não ter medo nem vergonha de qualquer ato que eu julgue certo. Não quero aquele medo novamente, aquelas dúvidas constantes. Por isso doutor, peço mais uma vez que me cure.
É complicado explicar meus atos, e disfarçar atitudes que são confundidas com bipolaridade. Ninguém entende, ninguém é obrigado a entender. E eu já estou cansada disso. Me desculpe, mas não aguento mais ver a sua cara, quero me livrar logo de você e desse ambiente, de todo esse olhar de piedade quando falo porque estou aqui. O mais difícil de aceitar é que não vejo previsão pra me livrar dessa situação, quando penso que tudo está acabando, me sinto mal novamente. Não aguento mais.
Mas tudo bem, vou ouvir os conselhos do meu pai – afinal, ele sempre tem razão – vou ser otimista, vou acreditar que um dia vou me livrar de você e dos meus medicamentos. É isso mesmo doutor, aguarde e verá e vou me livrar de toda essa droga. Mas enquanto isso doutor, aumente a minha dose e me faça feliz.

"Escrever é esquecer. A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida. A música embala, as artes visuais animam, as artes vivas (como a dança e a arte de representar) entretêm. A primeira, porém, afasta-se da vida por fazer dela um sono; as segundas, contudo, não se afastam da vida - umas porque usam de fórmulas visíveis e portanto vitais, outras porque vivem da mesma vida humana. Não é o caso da literatura. Essa simula a vida. Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso."


Fernando Pessoa

As estações e seus amores



E está aberta a temporada da carência. Pessoas enlouquecidas atrás de qualquer paixão, qualquer caso que ajude a esquentar os pés entre as cobertas. Nessa temporada não busca-se, necessariamente, um amor. Afinal, hoje em dia não é preciso amar para falar que ama, nem ao menos gostar para namorar. O essencial é ter alguém para falar que é seu e te esquentar no inverno. Mas o importante é que essas relações duram... Até o verão chegar.
Talvez seja por isso que eu acredito mais nos amores de verão. Considero até aquelas paixões de temporada de praia mais verdadeiras. Afinal, nos dias quentes ninguém é carente, ninguém sente a necessidade enlouquecida de ter alguém ao seu lado. Amar no verão é abrir mão de estar livre, é querer prender-se ao um único alguém, mesmo tendo possibilidade de ter outras várias opções. Enfim, amar em dias quentes nada mais é do que simplesmente querer estar perto da pessoa, por querer estar com ela, não apenas por não querer estar sozinho. Amar no verão é amar a pessoa, não somente a situação.
Não posso terminar sem dizer que também admiro amores que começam no inverno, mas somente aqueles que duram até o verão. Amores que começam em dias frios e prolongam-se até as tardes ensolaradas de dezembro. Amores que completam o ciclo das estações e que repetem-se, do inverno ao verão.

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