Escala de cinza


Acordou cedo mesmo sem obrigação, era raro, abriu a janela e viu aquele céu nostálgico, cinza e chuvoso, completamente sem vida. Obviamente que em um dia desses, ela iria lembrar-se de um certo sorriso, de certas conversas, de alguns abraços. É obvio que ela alternaria lembranças entre risadas e choro. É obvio que ela pensaria em reviver alguns momentos ou desejar que eles ainda fizessem parte de seu presente. Ela era assim. Ela odiava ser assim, mas não conseguia mudar.
Deitou novamente e olhou para aquelas paredes brancas, que pareciam transmitir imagens de um passado distante e de um passado recente. Viu a vida como se fosse um filme, uma comédia romântica, um drama, um suspense. Adormeceu novamente e quando acordou, situou-se no presente e assim, repetiu três vezes lentamente “Bons tempos, bons tempos, bons tempos”, segurou as lágrimas e forçou um sorriso. Foi então que levantou, balançou os cabelos, estralou o pescoço, e seguiu. Seguiu em direção ao presente, ao futuro. Seguiu em direção a vida, em busca de futuras lembranças que aparecerão em dias tons de cinza.

Dias de inércia

Em dias como hoje nada acontece. O céu nublado, sem chance de chuva ou aparecimento do Sol, encobre qualquer possibilidade de ocorrer algo memorável. Não acontece nada compense o despertar, o caminhar pelas ruas com esperança de grandes movimentos. Dias assim são calmos, as pessoas fazem seus trajetos lentamente, como se não pensassem para onde vão, ligam o automático e esperam o dia acabar. As paisagens permanecem intactas, o maior movimento percebido é das folhas das arvores que caem lentamente no chão.  Os sentimentos permanecem congelados, são os mesmo do dia anterior, que serão os mesmos do dia seguinte, afinal, nada acontece para muda-los em um dia como hoje.
                É em um dia assim que vale parar para pensar o que está certo e errado na vida, deitar a cabeça no travesseiro e relembrar os últimos bons momentos. É valido pensar no amor, nos antigos e nos futuros, e concluir se acredita que se envolver valha a pena. É preciso perceber que a vida é curta demais para viver em dias assim, e é preciso reagir. Por isso, só hoje é permitido viver na inércia, e amanhã... Ah, amanhã é dia de sorrir e pular de novo, comemorando a vida e tudo de bom que aconteceu e está para acontecer. Amanhã é dia de brindar o otimismo. 

Eu vou indo... bem.


            Querido, estou aqui como sempre para te falar sobre mim, falar todas as coisas que você insiste em saber. Pois bem, por isso venho novamente contar que estou indo bem, sabe que não gosto de falar de vitórias, mas tudo vai se encaixando, eu acho. Sim, estou me cuidando, venho me medicando e fazendo de tudo para apagar aquela fase da minha vida, você precisa ver como estou saindo dessa, voltei a rir para tudo na vida, voltei a rir até sem razão. Sou praticamente aquela dos velhos tempos.
              A verdade é que não venho te escrevendo tanto, porque é só a tristeza me inspira, e como já te disse, a minha tristeza está desaparecendo. Mas te prometo, também vou aprender a escrever sobre alegria, sobre meu bem-estar, você merece saber que tudo está melhorando. Você merece tudo do que há de melhor, afinal, eu sei que não foi fácil me aguentar nos tempos mais difíceis, com todas aquelas lamentações sobre a vida, que para alguns não faziam menor sentido. Outra verdade, é que qualquer sofrimento alheio, parece fácil, até você passar pelo mesmo. Tudo bem, eu entendo, e já superei.
             Por hoje é só isso querido, mais uma vez te prometo que vou te escrever mais e torça por mim. Torça para que esse bem-estar continue, que eu continue vivendo como se o mundo fosse acabar, sem pensar demais, sem me arrepender. 

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