Me escute doutor

Doutor, aumenta essa dosagem, por favor! Já passei pela fase da alegria extrema, da alegria simples, da alegria disfarçada, e agora já não estou conseguindo fingir que estou bem. Por isso, peço que mais uma vez aumente minhas doses. Na verdade, não quero mais medicamentos doutor, só quero que o senhor me cure, é para isso que eu venho aqui, não é mesmo?
Quero voltar a rir do nada, assim como estive a um tempo atrás. Quero voltar a não ter medo nem vergonha de qualquer ato que eu julgue certo. Não quero aquele medo novamente, aquelas dúvidas constantes. Por isso doutor, peço mais uma vez que me cure.
É complicado explicar meus atos, e disfarçar atitudes que são confundidas com bipolaridade. Ninguém entende, ninguém é obrigado a entender. E eu já estou cansada disso. Me desculpe, mas não aguento mais ver a sua cara, quero me livrar logo de você e desse ambiente, de todo esse olhar de piedade quando falo porque estou aqui. O mais difícil de aceitar é que não vejo previsão pra me livrar dessa situação, quando penso que tudo está acabando, me sinto mal novamente. Não aguento mais.
Mas tudo bem, vou ouvir os conselhos do meu pai – afinal, ele sempre tem razão – vou ser otimista, vou acreditar que um dia vou me livrar de você e dos meus medicamentos. É isso mesmo doutor, aguarde e verá e vou me livrar de toda essa droga. Mas enquanto isso doutor, aumente a minha dose e me faça feliz.

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