Ela, talvez, sou eu


  

Uma das minhas maiores dificuldades é me expressar na 1ª pessoa do singular, assim como estou fazendo agora. Já criei várias hipóteses sobre esse meu “problema”, mas a que mais me convence é: Acho muito mais fácil cuidar e ajudar os outros do que a mim mesma. Acho difícil cuidar de mim. Gosto de cuidar do mundo, gosto que o mundo cuide de mim, mas não sei me cuidar. É realmente esse é o problema. Escrevo na 3ª pessoa do singular para sentir que estou sendo cuidada, ao ler, sentir que alguém me entende. É como se fosse outra pessoa escrevesse,  e eu somente lesse e concordasse e ao final exclamasse “Nossa, mas você sabe o que está falando, você me entende!”. E então me preencho de conforto, me preencho de atenção. 

  Ainda, há outra tese que me faz sentido, porém não tão bonita como a primeira. A verdade é que enquanto escrevo desejo que os problemas descritos não sejam meus. Assim, vejo a situação de fora, descrevo aqueles sentimentos, aquelas angústias, como se não fossem minhas. Só observo. Escrevo como se estivesse contando uma história de alguém qualquer, sem deixar pistas que aquela é minha história. Isso me alivia, me faz descarregar tudo que me atormenta, por meio de palavras. Palavras que me condenam.

  Por isso, não me julgue por me tratar sempre como “ela”. Muitas vezes eu sou “ela”, mas nm sempre. Sei que você não irá entender agora, quem sabe um dia. Quem sabe um dia perceba que isso faz sentido, e comece assim como eu, a sair de si quando escreve. Saia de si enquanto conta a sua vida.

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